Literaturas e outras andanças

Hoje é dia de lembrar poetas; foi o que apeteceu escrever, a foto do Alentejo não remete para a Florbela, um dia destes talvez, hoje remete para alguém das ilhas, de São Miguel, mas que certamente ia gostar desta imagem de Estremoz. Hoje é dia de lembrar Natália de apelido Correia.

De personalidade desconcertante mas sempre numa dança acertada com as palavras, com o português. Nunca é demais lembrar que Natália deixou uma marca inconfundível e de uma beleza estonteante na nossa literatura. Por isso cá vai um pequeno poema que mostra a grandiosidade da poetisa ou da poeta como diz Margarida Faro, que aqui já citei se bem se lembram…

Saudade

Tem um xaile velhinho de soluços
E em golfadas de névoa canta o fado.
De apodrecidas naus atam-lhe os pulsos
Cordas que à luz içaram o irrevelado

Nos aluados olhos tem convulsos
Trapos de um rei em brumas enguiçado
E de sonhos astrais sangram expulsos
Seus gestos no umbral de um céu vedado

A perdição da coisa desejada
Por desmedida é sua roxa sina
A arder num cristal de castidade.

Dos confins do futuro enamorada
Dorme o tempo em seus braços de neblina.
Retráctil flor de ausência. É a Saudade.

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