Nepal - diário de Bordo X


O Nepal, recebeu-nos com toda a energia que o Budismo transmite. O templo de Swayambhuath ou mais vulgarmente conhecido pelo templo do macaco, fica situado no cume de uma colina em Kathmandu. Este complexo religioso, apresenta-se com uma enorme estupa (stupa) lindíssima, e é considerado um dos locais mais sagrados do budismo no Nepal.




O complexo é composto por uma série de pequenos templos e por um mosteiro budista. É um lugar onde se respira boa energia, paz e uma tranquilidade sem limites. Ali, no templo de Swayambhuath, fechei os olhos e deixei-me levar pelas minhas memórias, alegrias e tristezas tudo sob o olhar atento daqueles três olhos pintados sob a estupa do templo.


As lojinhas de artesanato são um encanto que à mistura da simpatia nepalesa dá como resultado um carrego de sacos de compras à volta.




Swayambhuath oferece junto com o cheiro do incenso e dos mantras, uma vista maravilhosa sobre a cidade depois de subirmos 365 degraus, mas vale a pena, ah se vale, porque a vista é de cortar a respiração.


Swayambhuath é um dos locais religiosos mais antigos do Nepal, e conta a lenda que Budha o visitou e ali ensinou. Local igualmente importante para os Hindus, Swayambhuath é composto por uma dualidade pacifica de religiões e é sem dúvida um local sagrado imperdoável se não visitar quando for ao Nepal.



O templo de Pashupatinath, foi a paragem seguinte, templo Hindu, junto a um afluente do sagrado Ganges, ali, bem junto ao rio assistimos à cremação de quem já partiu e espera uma nova reencarnação, Pashupatinath é um complexo cujo templo apenas está acessível aos devotos do hinduísmo, com grandes símbolos de fertilidade, é comum assistir a quem pede aos deuses uma ajuda para conceber um filho.



Local de cuidados paliativos para quem a vida está em compasso de espera para a entrada da morte, o rio corre lentamente, e vai recebendo as cinzas da morte e o leite da vida que é derramado no templo de Shiva bem ao cima das escadas.


Pashupatinath dá guarida, aos gurus cuja vida não permitiu a alguns cuidar da sua família, acabando por se refugiarem no templo vivendo de dinheiro que pedem por uma foto.


Sem dúvida um local que marca pela proximidade da vida e da morte e pelo fino limbo que as separa, se de um lado se celebra a vida do outro diz-se um até à próxima reencarnação.


Primavera anunciada?

Parece que Ela está a dar da sua graça, as andorinhas já andam num desassossego, e os bolbos do jardim do Mocho já dão cor ao exterior e fazem-nos contemplar cada detalhe e aroma que deles emana...as flores.


É o tempo da dinastia dos bolbos, tulipas, narcisos, jacintos, crocos, frésias, enfim uma parafrenália de cores, tamanhos e feitios. É assim que a Primavera anuncia que está para breve.


As varandas começam a ficar engalanadas e as sardinheiras já reclamam o seu lugar ao Sol.


Aqui no poiso do mocho, as flores já dançam valsas de alegria, e as bulbosas, com tempo de vida limitado, aproveitam cada raio de sol como se fosse o último.


Os malmequeres, esses, Senhores de um longo verão, já se espreguiçam nos canteiros e o odor das ervas de cheiro invadem toda a casa, alfazema, alecrim, poejos, lúcia lima, manjerona, hortelã e outros familiares competem pelo melhor aroma que nos vai encantar.


A Glinicia explode em tons de lilás, mas para já, são os bolbos que reinam no jardim do mocho até ao final da primavera depois do roi est mort vive le roi reinam as flores do verão, mas até lá é o bolbo primaveril que mais ordena e mais nada!

Nepal - diário de Bordo IX

Dissemos adeus ao Rajastão, mas 40 minutos depois entrámos no mundo maravilhoso do Nepal. Kathmandu, apresentou-se-nos com toda a sua espiritualidade e convicção Budista.


É inesquecível o sorriso daquele povo, a ternura dos seus olhos, a bondade que se emana em cada gesto. Fomos recebidos com flores à boa maneira Nepalesa…Bem-Vindos ao Nepal, Bem-Vindos a Kathmandu.


O Nepal, contrasta de forma espantosa com o país vizinho, a organização é notória, e a limpeza marca pontos, os nossos olhos brilhavam a cada rua que passávamos, os templos de cor encarnada com janelas de madeira deixa-nos adivinhar a história de uma nação cheia de acontecimentos extraordinários.


A praça Kathmandu Durbar dá-nos a descobrir templos atrás de templos, todos ricamente construídos, com uma simetria ímpar, cada um com um relato de encantar sobre deuses, deusas .


Ali o budismo anda de mãos dadas com o hinduísmo sem qualquer espécie de rivalidade. Budha está para os Nepaleses, como igualmente está Shiva ou outro Deus qualquer. A Harmonia reina naquele pequeno país rodeado pelos Himalaias que tanto atrai os aventureiros da escalada.



A espiritualidade vagueia pelas ruas ao som dos mantras que tocam sem cessar, juntamente com os sons das taças tibetanas que curam através dos seus sons vibratórios.


O templo de Swayambhunath oferece-nos a paz de espírito que todos anseiam no Ocidente, o cheiro dos incensos vão-nos inebriando a alma enquanto os olhos de Budha nos protege e nos diz que a causa de todos os nossos males é o desejo, o desejo pelo etéreo material que nos consome a cada dia que passa.



E agora é tempo de regressar ao hotel e sonhar ao som das música que nas ruas tocam, sempre a lembrarem-nos que chegámos ao país da espiritualidade, ao país fantástico que é o Nepal.

Sonhem com o Dharma viajantes que amanhã é dia de descobrirem Patan ou Lalitpur, que é como quem diz, amanhã é dia de novos encantos...Bons sonhos




India - Diário de Bordo VIII

A janela intemporal da India estava a fechar-se para nós, mas ainda nos esperava um pote de sensações que estavam mortinhas para saltarem cá para fora, e o protagonista e responsável por abrir a tampa do baú foi o nosso bem-aventurado Amrik Singh.

Amrik foi o nosso Guru por toda esta jornada, ele, na sua gigantesca simplicidade, foi o homem que bateu aos pontos todo e qualquer guia nos tentou mostrar a sabedoria e conhecimento sobre o mundo mágico indiano, Amrik, foi o Homem que nos mostrou alguns cantinhos da verdadeira Índia ainda por descobrir e longe dos olhares curiosos dos turistas.

Amrik tinha a surpresa final, este Sikh que enverga belos turbantes coloridos e com olhos de quem já viveu este mundo e o outro, adoptou-nos, fomos a sua família durante uma breve temporada, e neste tempo fugidio, convidou-nos a sonhar e também a emocionar com tudo o que a Índia tinha de bom e horrível. Durante dias fomos enganando as lágrimas, ajudados pelos sabores das comidas pelas cores dos tecidos e pela magnificência dos templos e palácios.

Amrik, queria fechar a porta desta viagem com chave de ouro e se assim o prometeu melhor o fez…”despiu”o seu fato de motorista e colocou o turbante de guia amigo e levou-nos ao seu local mais puro, mais íntimo, mais importante….o templo Sikh em Delhi.

"Sikh" significa "disciplina". Ao contrário do hinduísmo, para os Sikhs não existem castas, todos os homens desfrutam da mesma condição.

Amrik, fez questão de nos levar ao coração do templo, onde diariamente se fazem 20 mil refeições diárias que matam a fome a muitos indianos de uma capital repleta de milhões e milhões que todos os dias tentam sobreviver de forma inacreditável.

“As Histórias da Vida", escrito 80 anos após a morte de Nanak, o fundador da religião (cuja origem é remontada à Índia do século XV) é o mote que faz mover a vida dos Sikhs, para eles não existe fronteiras e limites para praticar o bem.

Os cantigos são entoados no templo e nós sentados nos seu interior, junto com centenas deles, deixamo-nos levar pela ladainha que nos trai e nos faz cair num mar de lágrimas. A emoção chega finalmente ao seu auge e eu choro, choro por todos os dias que enganei os sentimentos, por toda a vez que as lágrimas me bateram à porta e eu não quis abrir.

Amrik, viu o meu mar de lágrimas e sem um único som, olhou para mim, sorriu e deu-me um abraço. Amrik conduziu-nos de seguida ao coração do templo Sikh, e quando demos por nós estávamos no meio de dezenas e dezenas de voluntários que meticulosamente confeccionavam comida naquela cozinha gigante, aquele local é, para Amrik Singh, o ponto mais importante daquele templo de cúpulas de ouro, aquele é o local onde se mata a fome a 20.000 pessoas diariamente, que esperam ordeiramente que chegue a sua vez. Ali uma vez por dia são tratados como gente normal e merecedora de afecto e de respeito.

De forma organizada, os voluntários colocam os tabuleiros com a comida que vão sendo recolhidos de forma serena, sai um grupo, e antes que entre o próximo, os voluntários arrumam e limpam a sala para que o próximo grupo seja recebido de forma digna. E assim, por ali passam uma pequena multidão, todos os dias, e assim se prova e comprova que quando queremos, não existe limite para o bem.

As lágrimas continuaram a cair-me pela face, e Amrik cheio de tranquilidade e paz, continuava a liderar a nossa visita ao templo sikh, e ao mesmo tempo continuava a dar-nos uma lição de vida.

Os Sikhs acreditam que Deus é um só, sem forma, eterno, presente em todos lugares, visível para qualquer um que tenha interesse em vê-lo e essencialmente cheio de graça e compaixão.

Guru Nanak assegurava que a salvação dependia da aceitação da natureza de Deus. Se o homem reconhece a verdadeira harmonia da ordem divina (hukam) e viesse para dentro desta harmonia ele seria salvo. Os Sikhs rejeitam a crença hindu, que afirma que a harmonia pode ser alcançada por práticas ascéticas. O Sikhismo enfatiza três acções: meditação om e a repetição do nome de deus (nam), doação ou caridade (dan) e banhar-se (isnan).

É esta multivariedade de crenças e formas de ver o mundo, que tornam também a Índia no mundo à parte, num mundo onde a alegria e a tristeza andam de mãos dadas, e as lágrimas que soltei naquele templo, serviram também como catarse de muitas tristezas, minhas, ali chorei por aqueles que já partiram, e por todos os meus medos e angústias e de como somos tão mesquinhos e ignorantes quando achamos que a nossa vida vai torta.

O dia estava lindo, e agora, de alma vazia e purificada, rumámos ao mercado das especiarias, a última surpresa que Amrik tinha para nós, porque, para ele, sair da Índia com saquinhos de especiarias feitos para turista era coisa que nós não merecíamos. Agora já fora da paz do templo voltámos a encontrar o caos da cidade, mas esse já nos incomoda, nós já fazíamos parte daquela urbe tão caótica, tão suja, mas ao mesmo tempo tão encantadora e misteriosa

Obrigado Índia
Até sempre Amrik Singh
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